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Cinema

O Brasil na mídia além do futebol e do samba: 3% e O Escolhido

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Qualquer pessoa que pergunte a um estrangeiro qual sua visão sobre o Brasil, pode ter certeza que as respostas incluirão “futebol” e “samba”. Isso não necessariamente é errado mas, definitivamente, não engloba nem um por cento da cultura, da sociedade e da paisagem brasileira. Por outro lado, se esse estrangeiro, por um acaso, já tiver assistido às séries 3% e O Escolhido, ambas da plataforma de streaming Netflix, as respostas sobre a visão do país, seguramente, serão muito mais amplas.
Não é muito difícil de se perceber o motivo pelo qual os seriados são tão repletos de informações sobre o Brasil, que, mesmo sendo um país extremamente extenso, possui relevantes semelhanças em sua cultura. Até porque, apesar de tratarem sobre temas ficcionais, possuem uma trama bastante envolta na crença, na estrutura social e no fazer político do povo brasileiro.
A série 3%, finalizada neste ano, sempre teve sua crítica política em bastante evidência. Contando uma história sobre uma sociedade dividida entre aqueles que, após passarem por uma prova de suposta meritocracia aos 20 anos, poderiam viver no luxo e aqueles — os não aprovados — que deveriam viver na pobreza junto com o 97% restante da população. Apenas com essa descrição já se pode ver uma semelhança com os jovens brasileiros em relação às aprovações em universidades públicas do país, visto que essas, baseando-se em apenas uma ou duas provas, determinam quem merece ou não estudar ali. Pelo menos, por sorte, no Brasil, ao contrário da série, os jovens podem repetir as avaliações no ano seguinte, caso não tenham obtido aprovação. Isto é, caso tenham condição financeira para continuar nos estudos. Ademais, na série também é demonstrado o paradigma da estrutura social brasileira, baseada em uma maioria que vive na pobreza e uma minoria, no luxo.
Continuando com 3%, porém com um foco maior da segunda à quarta — e última — temporada, também é visível sua similaridade com a relação dos cidadãos brasileiros e suas visões políticas. Nos últimos anos, é claramente mostrado o posicionamento e reposicionamento das pessoas em relação às figuras políticas. A cada escândalo de corrupção ou notícia divulgada, verídica ou não, vê-se uma considerável parte do povo mudando de lado, enquanto outra permanece fiel a suas figuras. Na segunda temporada da série, quando a Concha é submetida a um processo, ocorre uma mudança de lado, na qual pessoas que apoiavam a sua líder terminam optando por corroborar com a oposição e, com a divulgação de uma sabotagem dentro da Concha, muitos voltam atrás da velha liderança, formando, desse modo, um cenário muito semelhante ao brasileiro.
Para finalizar com essa série, deve-se ainda considerar sua conclusão, em que uma situação totalmente utópica é proposta. O Brasil é um país em que diversas utopias já foram prometidas por políticos e até hoje não foram cumpridas. O espectador termina 3% sem saber como será dali em diante com a nova liderança, assim como os brasileiros, ao optarem por governantes com propostas utópicas, também permanecem no escuro, sem enxergar o que virá pela frente.
No entanto, não é apenas social e politicamente que se pode analisar um país tão complexo como o Brasil. Como demonstrado no livro “O que faz o brasil, Brasil?” de Roberto DaMatta, a religião é, sem sombra de dúvidas, um dos pilares que compõe a cultura brasileira e, portanto, é algo que compõe essa sociedade. Assim sendo, em O Escolhido, podemos ver a importância da religião para esse povo. Nesse seriado, é exposta uma cidade onde mora um salvador que não deixa ninguém adoecer ou morrer, sendo toda a vida daqueles que lá habitam

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guiada por ele. Além disso, a fé daquelas pessoas é completamente cega, visto que eles sequer aceitam que pessoas de fora da cidade entrem lá. É praticamente impossível desassociar a fé do povo brasileiro. Surgem a cada dia figuras que se tornam ícones e, mais tarde, possuem segredos revelados que acabam mostrando ao povo que não se pode confiar cegamente em algum líder.
Seguindo por um outro rumo, tanto 3% quanto O Escolhido mostram um pouco das festas e datas especiais celebradas no Brasil. Em O Escolhido mostra-se um pouco do folclore e da importância das festas religiosas para a cultura. Já em 3% é exibida uma belíssima cena metaforicamente representando a festa do Carnaval Brasileiro, permeada pela canção “Preciso me encontrar”, que deixa tudo ainda mais perfeito.
Tomando-se em conta os cenários, de um lado é mostrada a bela paisagem do museu de Inhotim, na série 3%, deixando quem já visitou o local ainda mais encantado, e, de outro, a paisagem do pantanal. Essa é uma sintonia perfeita entre aqueles que acreditam que os brasileiros não são capazes de fazer arte e de quem acha que apenas a Floresta Amazônica é um ambiente importante no país. É impossível assistir a ambas as séries sem sair com essa visão modificada.
Por fim, existe ainda mais uma similaridade dessas produções com o Brasil: elas refletem o quanto o povo brasileiro sofre do “complexo de vira lata”, sempre colocando suas produções audiovisuais como inferiores às estrangeiras. Assim, essas duas excelentes séries acabam sendo abandonadas pelo espectador nacional e fenômenos, como a popularidade de 3% em outros países ter sido muito maior do que no próprio Brasil, tornam-se recorrentes. Essa, sem dúvida, é uma falha das grandes dos brasileiros em geral.
Desse modo, pôde-se perceber que, como o esperado, o Brasil não é apenas “futebol” e “samba”. É, sem dúvida, uma mistura disso com diversas outras questões sociais, políticas, econômicas e culturais. E, claro, 3% e O Escolhido mostram isso muito bem.

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Por Amanda Gambogi

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Cinema

Encanto através de uma visão PCD

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Por Amanda Gambogi 

Nessa semana chegou às telonas a nova animação da Disney: Encanto. O filme é retratado através da perspectiva de Mirabel, a única garota da família Madrigal a não apresentar nenhum dom mágico, como é visto em todos os outros membros. Assim, a trama tenta retratar como a garota se sente em relação a isso e em como ela pode se encaixar nesse ambiente que lhe é tão acolhedor, mas, ao mesmo tempo, muito excludente.
Logo no início do longa, é introduzida ao espectador a história da família, mostrando como os Madrigal ganharam seus dons, com a avó da família – carinhosamente chamada de abuela- enfrentando um enorme desafio que remete à história colombiana. Com sua vila invadida, sem ter para onde fugir, com três filhos para criar e com seu marido assassinado – cena esta que a Disney entrega muito bem, ao mesmo tempo que mantém a essência infantil do filme – abuela consegue um milagre que cria sua vila e sua casa, onde passa a morar com sua família. No entanto, desesperada para não perder jamais esse milagre, ela acaba esquecendo de que o amor é mais importante que os dons familiares.
Essa não é uma premissa nova das animações da Disney, afinal Frozen já tratava sobre a importância da aceitação familiar – em Encanto, aliás, tem-se uma cena que realmente lembra o filme de Anna e Elsa, com um digno abraço de irmãs. Porém o novo longa consegue elaborar essa história de modo a comover o espectador muito mais. Com cenas de arrancar lágrimas aos olhos, é até mesmo possível de comparar Mirabel com uma pessoa com deficiência (ou PCD) de nossa sociedade, pois são pessoas que muitas vezes tentam se encaixar, porém sem o “dom mágico” de serem como a maioria.
As cenas de exclusão da personagem principal apresentadas no filme podem até mesmo se tornar gatilhos aos olhos de um PCD. Talvez a Disney tenha pecado em deixar esse aviso de fora, podendo deixar o psicológico de algumas pessoas abalado.
Como PCD, confesso que fiquei bastante intrigada e pensativa. Me senti representada e vi minhas dores ali na tela. É claro que deixei algumas lágrimas na sala de cinema, não tive como me conter. Todavia, acabei deixando o lugar mais leve do que entrei, com uma possível esperança de mudança, já que a próxima geração está crescendo com novas ideias de inclusão na cabeça, inspirada em obras como essa.
Sem tentar dar spoiler, posso dizer que o final do longa, apesar de bastante previsível, não deixa a desejar. O final também é de fazer cair lágrimas dos olhos e de deixar o público com coração quentinho. Pais, adultos, crianças e PCDs, todos que assistirem ao filme saem com uma pitada de esperança. E, claro, com a reflexão de que, apesar de sermos diferentes, temos sempre um papel a cumprir para o bem coletivo.

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Diretor/ Alex Cavalcante Gonçalves

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