Saúde
O que aprendemos sobre resultados e efeitos colaterais das vacinas
André Biernath – @andre_biernath – Da BBC News Brasil em Londres
O Museu de Ciência de Londres, no Reino Unido, montou uma exposição temporária para marcar a epopeia do desenvolvimento e da aplicação das vacinas contra a covid-19 em tempo recorde.
Numa das prateleiras, é possível ver a seringa, a ampola e a bandeja de papelão que foram usadas no dia 8 de dezembro de 2020, quando a inglesa Margaret Keenan, de 90 anos, se tornou a primeira pessoa a receber a vacina contra a covid-19 fora dos estudos clínicos.
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De lá para cá, outras 13 bilhões de doses foram administradas em todo o mundo, incluindo os reforços e os imunizantes atualizados, que protegem contra as variantes mais recentes.
O que aprendemos nesses dois anos de campanha? O que os dados revelam sobre a efetividade dos imunizantes? E o que se sabe sobre os efeitos colaterais?
Em resumo, os estudos mostram que as vacinas contra a covid testadas e aprovadas foram as principais responsáveis por conter as hospitalizações e as mortes pela infecção — sem elas, os números de afetados pela crise sanitária seriam bem maiores.
Além disso, os eventos adversos mais graves são considerados raros pelas instituições de saúde pública.
Os efeitos práticos
“A vacinação contra a covid marcou a diferença entre morrer e sobreviver para muitas pessoas”, resume a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Desde que as doses começaram a ser aplicadas na maioria da população, as taxas de internações e mortes decorrentes das complicações relacionadas ao coronavírus caíram consideravelmente.
E, mesmo com a chegada de variantes mais transmissíveis, como a ômicron, a imunização garantiu que a maioria das pessoas não ficasse severamente doente ou morresse.
O Brasil é um exemplo disso: quando as primeiras vacinas foram aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro de 2021, o país estava prestes a viver o momento mais grave de toda a pandemia.
Entre o final de março e o início de abril do ano passado, a média móvel diária de mortes por covid chegou a superar a casa das 3 mil (com registros de 72 mil novas infecções/dia), segundo o Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).
Com o passar das semanas — e o aumento da porcentagem de brasileiros vacinados — os números começaram a cair aos poucos.
Essa estatística só voltou a subir novamente em janeiro de 2022, com a chegada da variante ômicron. Mesmo assim, o pico dessa onda foi de 950 mortes diárias, enquanto o número de novas infecções chegou a 189 mil a cada 24 horas.
Para a comparação ficar mais clara:
- Pico da onda de março/abril de 2021: média de 75 mil casos e 3 mil mortes por dia.
- Pico da onda de janeiro/fevereiro de 2022: média de 189 mil casos e 950 mortes por dia.
Um outro indício da efetividade das vacinas vem de uma pesquisa publicada no último dia 13 de dezembro.
Nela, o Fundo Commonwealth pediu que cientistas da Escola de Saúde Pública da Universidade Yale, nos Estados Unidos, tentassem responder a uma pergunta: e se não tivéssemos vacinas contra a covid-19 até agora?
Os resultados encontrados indicam que só os EUA teriam enfrentado 18,5 milhões de hospitalizações e 3,2 milhões de mortes adicionais por covid nesses últimos dois anos.
Além disso, o programa de vacinação americano representou uma economia de US$ 1,15 trilhão em custos médicos, que seriam necessários para bancar o tratamento dos casos extras da infecção.
“Desde dezembro de 2020, 82 milhões de infecções, 4,8 milhões de hospitalizações e 798 mil mortes foram registradas no país. Em outras palavras, sem a vacinação, os EUA teriam experimentado 1,5 vez mais infecções, 3,8 vezes mais hospitalizações e 4,1 vezes mais mortes”, comparam os autores.
E os efeitos colaterais?
“Quanto mais tempo passa e mais doses das vacinas contra a covid são aplicadas, mais temos certeza sobre o perfil de segurança delas”, responde Ballalai.
Nesses dois anos, as agências regulatórias e as instituições públicas de saúde realizam um grande esforço para monitorar e investigar cada caso de provável evento adverso pós-vacinação.
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) aponta que os “efeitos colaterais sérios são muito raros”.
Entre os incômodos mais comuns após a vacinação, eles destacam:
- Dor no local da injeção;
- Sensação de cansaço;
- Dor de cabeça;
- Dor no corpo;
- Febre;
- Sensação de mal-estar ou de estar doente.
A entidade detalha que “a maioria desses efeitos colaterais são leves e devem durar menos de uma semana”.
“Se estiver com temperatura alta por mais de dois dias, uma tosse contínua ou perder o paladar e o olfato, você pode estar com covid-19”, orienta o NHS.
“Você não pega a covid da vacina, mas é possível ter se infectado pouco antes ou depois de receber a dose”, complementa o artigo .
Mas e os eventos adversos graves? O que dizem os números mais recentes?
O mais atualizado registro de estatísticas do tipo é publicado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).
Numa publicação, a entidade aponta a quantidade proporcional de casos de efeitos colaterais mais graves conhecidos até o momento:
- Anafilaxia (reação alérgica severa após a vacinação): 5 casos a cada 1 milhão de doses aplicadas;
- Trombose relacionada à vacina da Janssen: 4 casos a cada 1 milhão de doses aplicadas;
- Síndrome de Guillain-Barré relacionada à vacina da Janssen: não há um número fixo, mas houve um pequeno aumento de casos em homens com mais de 50 anos imunizados com esse produto, em comparação com aqueles que receberam doses da Pfizer;
- Miocardite e pericardite (inflamações cardíacas) em jovens que tomaram a vacina da Pfizer:
- Dos 12 aos 15 anos: 70,7 casos por milhão de doses aplicadas;
- Dos 16 aos 17 anos: 105,9 casos por milhão de doses aplicadas;
- Dos 18 aos 24 anos: 52,4 casos por milhão de doses aplicadas.
O CDC informa que “a maioria dos pacientes que tiveram miocardite e pericardite depois da vacinação contra a covid-19 responderam bem ao tratamento e ao repouso e se sentiam melhor rapidamente”.
A entidade reafirma que “múltiplos estudos e revisões dos dados dos sistemas de monitoramento de segurança continuam a mostrar que as vacinas são seguras”.
Sobre as mortes, os registros americanos calculam que, das 657 milhões de doses administradas por lá até 7 de dezembro de 2022, foram identificadas 17,8 mil mortes após a vacinação (ou 0,0027% do total), mesmo que a aplicação das doses não fossem identificadas como a causa direta disso. A investigação de todos esses casos por meio de análises de registros médicos e autópsias encontrou apenas nove mortes associadas ao uso da vacina da Janssen por lá.
Ballalai lembra que nenhum remédio, imunizante ou procedimento é isento de riscos. “Todos esses dados nos mostram que o custo-benefício de vacinar supera de longe os eventuais e raros problemas”, conclui.
O que vem pela frente
Passados dois anos desde que as primeiras vacinas contra a covid-19 começaram a ficar disponíveis, ainda existem muitos desafios para controlar o coronavírus de fato.
“Do ponto de vista global, temos países que estão bem atrasados na imunização”, destaca o médico epidemiologista André Ribas Freitas, consultor científico de A Casa, uma plataforma que reúne agentes nacionais de saúde e agentes de combate às endemias.
No Haiti, por exemplo, apenas 2% da população tomou as duas doses iniciais. Os números também são baixos em países como Argélia (15%), Mali (12%), Congo (4%) e Iêmen (2%).
“Isso representa uma preocupação muito grande, pois a manutenção da transmissão viral intensa representa um risco para o surgimento de variantes mais transmissíveis ou patogênicas”, alerta o especialista, que também é professor na Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, em Campinas, no interior paulista.
O Brasil também tem os seus desafios próprios e rotas a corrigir durante os próximos meses, apontam os especialistas.
“Alguns estudiosos calculam que até 300 mil vidas poderiam ser salvas se tivéssemos começado a vacinação antes e a todo vapor”, lamenta Soraya Smaili, professora de farmacologia e ex-reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Dados compilados pelo portal CoronavirusBra1 revelam que 81% dos brasileiros tomaram o esquema inicial da vacinação até o momento.
A quantidade de indivíduos que receberam as doses de reforço, essencial para proteger contra a variante ômicron, é bem mais baixa: apenas 56% das pessoas estão com o esquema de imunização devidamente atualizado.
Além de aumentar essa cobertura vacinal, os profissionais de saúde ouvidos pela BBC News Brasil apontam outras duas fronteiras que o país precisará dar atenção nos próximos meses: a proteção das crianças e a aplicação das doses bivalentes (que protegem contra as variantes mais recentes) em grupos prioritários, como idosos e imunossuprimidos.
“Uma dessas vacinas bivalentes atualizadas já foi aprovada pela Anvisa e é administrada nos Estados Unidos e na Europa. Precisamos dela para já, principalmente para resguardar os mais vulneráveis às complicações da covid”, pontua Smaili.
Ballalai aponta que esses imunizantes atualizados devem ficar restritos justamente a esses grupos específicos. “As vacinas ‘originais’, que temos hoje em dia, continuam a proteger bem o restante da população”, diz.
Freitas, por sua vez, entende que a imunização das crianças deve ser uma prioridade máxima. “A cobertura vacinal contra a covid entre os mais jovens brasileiros está muito baixa”, destaca.
Apesar de as mortes no público infantil serem menos frequentes, os números absolutos são alarmantes: a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) calcula que o Brasil registrou uma morte de crianças de 6 meses a 5 anos por dia ao longo de todo o ano de 2022.
“Apesar de estarmos num cenário muito mais favorável, a pandemia ainda não acabou e entre 80 a 100 brasileiros ainda morrem todos os dias”, destaca Ballalai.
“E estar com a vacinação atualizada é a melhor estratégia para ficar mais protegido”, conclui a médica.
– Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63985184
Fonte: IG SAÚDE
Saúde
Especialistas se reúnem em workshop para discutir estratégias e inovações para impulsionar a economia de baixo carbono e a redução de emissões de gases de efeito estufa no Brasil
A redução da emissão de gases poluentes é uma demanda mundial urgente para desacelerar o processo de aquecimento global. O impacto das mudanças climáticas, com a recorrência de eventos extremos como verões mais quentes, períodos de secas e chuvas mais concentradas e intensas, impulsiona a transição para uma economia de baixo carbono.
Para estimular a troca de experiências e conhecimentos sobre o assunto, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) promove, no dia 22 de outubro de 2024, o workshop “O papel das engenharias na transição para uma economia de baixo carbono”. O evento, gratuito e aberto ao público, reúne especialistas para debater soluções integradas para a redução de emissões de carbono e da sustentabilidade em diversos setores como indústria, transporte, construção civil, energia e agronegócio.
O papel da engenharia
Organizado pelo Grupo de Trabalho (GT) “Economia de Baixo Carbono”, o workshop apresentou novas perspectivas para o mercado de carbono brasileiro e abordou a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) por meio do Projeto de Lei 182 de 2024, em análise no Senado.
“Precisamos ampliar a discussão sobre esse mercado e o papel das engenharias na desaceleração das mudanças climáticas”, pontuou a coordenadora do GT, engenheira mecânica Sírcia de Sousa.
Segundo ela, que também é conselheira da Câmara Especializada de Engenharia Mecânica, a engenharia é essencial para o planejamento e implementação de estratégias de descarbonização para setores industriais, monitoramento e verificação de gases de efeito estufa, além da criação de soluções baseadas na natureza para remoção de carbono. “Os engenheiros também desempenham um papel essencial na produção de normas que orientam e incentivam a população a ter atitudes menos agressivas ao meio ambiente, além de tornar atrativa a adesão da sociedade a um cotidiano de menor emissão de gases poluentes”, ressalta Sírcia.
O engenheiro florestal e técnico administrativo da Ufla, Thiago Magalhães Meirele, destacou a importância de ambientes como o workshop organizado pelo Crea-MG para que profissionais de diversas áreas possam interagir, debater e criar soluções mais ágeis para que o processo de migração do mercado para a economia de baixo carbono seja mais eficiente. “Esse processo é multidisciplinar, cada profissional dentro da sua área, da sua especificidade e atribuição técnica tem seu papel. Juntos, eles vão ajudar na criação de novas tecnologias, no desenvolvimento de protocolos, na aplicação de certificações, dentre outras questões”, disse. Thiago ainda destacou que é preciso que toda a população tenha consciência do tema. “Esses são problemas coletivos e só podem ser resolvidos na coletividade, se não houver um entendimento de que todas as áreas precisam trabalhar juntas para atingir essas metas, a gente não vai conseguir alcançá-las”, afirmou. O engenheiro concluiu explicando a importância do poder público nesse contexto. “Esse processo perpassa também por mudanças de políticas públicas, por incentivos fiscais, por educação”.
Também reconhecendo a iniciativa do Crea-MG em promover um evento para debater um tema “muito importante e de interesse mundial”, o engenheiro florestal Enio Fonseca, com 42 anos de atuação nas áreas de sustentabilidade, meio ambiente e mineração, ele veio participar do workshop. Fonseca parabenizou o Conselho e relembrou que “a engenharia tem um papel muito importante na dinâmica da concepção e operacionalização dessas questões da transição energética e que envolvem o crédito de carbono’’
Exemplo mineiro
Durante o workshop o município do sul de Minas, Extrema, ganhou espaço por ser o pioneiro e ser exemplo em relação a implementação de políticas ambientais. “O primeiro o município que tem esse tipo de modelo de mercado regulado de carbono é mineiro. Extrema é um caso de sucesso que começou em 2005 com uma política de pagamento dos serviços ambientais e na evolução da política, entre 2015 e 2017, eles começaram a incorporar a questão do carbono como uma das condicionantes ambientais”, comentou a engenheira florestal Valéria de Fátima Silva, integrante da Carbon Flore, empresa dedicada a soluções para economia de baixo carbono.
Valéria explicou que em nível estadual e nacional, a regulação caminha lentamente e que ainda existem diversos entraves para que o mercado adote políticas ambientais.
“Para avançar, é preciso haver consenso e envolvimento, e Extrema se diferenciou por fazer esse envolvimento voluntariamente, então só quando as empresas passaram a apoiar o projeto voluntariamente, eles instituíram isso como lei. Então o caminho foi primeiro de convencimento, de engajamento voluntário, para depois a obrigação legal”, explicou a engenheira florestal.
Outro desafio apontado pelo engenheiro de produção civil e professor do Cefet-MG Augusto César da Silva Bezerra é a ampliação do uso de biomassa para a produção de energia. Para ele, o mercado de uma maneira geral está atento ao uso consciente da energia. “A indústria global tem uma projeção de emissões mais voltada para o setor energético, para a energia, o uso da energia na indústria. E a indústria brasileira, nesse aspecto, está bem. A energia brasileira é uma energia mais limpa do que a média global. Nosso principal desafio, eu acredito que seja a gente conseguir potencializar o uso de biomassa, seja para a produção de energia térmica, de biocombustíveis ou de bioenergia, de uma forma ampla”, afirmou.
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