Saúde
8 mitos e verdades sobre o Transtorno do Espectro Autista
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas no mundo possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo cerca de 2 milhões somente no Brasil. No entanto, mesmo após 80 anos do primeiro caso do transtorno, ainda existem muitos estigmas com relação à inclusão dessas pessoas em sociedade e às suas características. Por isso, o Dr. Thiago Rocha, especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência, elenca os principais mitos e as verdades sobre o autismo. Veja!
1. Autismo é uma doença?
Mito. Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, não uma doença , ao contrário do que muitas pessoas imaginam. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.
Sem uma definição do diagnóstico e, consequentemente, sem a ajuda e o tratamento necessários para viver melhor com a condição, pessoas dentro do espectro passam anos, e até décadas, lidando com dificuldades que não sabem o que é, sentindo-se deslocadas e “diferentes”.
“O diagnóstico pode ajudar a fornecer informações sobre as características específicas que uma pessoa com autismo apresenta. Isso permite que pais, cuidadores e profissionais de saúde trabalhem juntos para desenvolver um plano de tratamento personalizado para a pessoa com TEA. O diagnóstico precoce também pode ajudar a garantir que a pessoa receba intervenções e tratamentos que possam ajudá-la a superar ou gerenciar seus desafios, maximizando suas habilidades e potencial”, diz o Dr. Thiago Rocha.
2. Autismo pode ser diagnosticado em bebês?
Verdade. O TEA costuma apresentar seus sintomas antes dos 3 anos de idade, mas alguns pais podem reconhecer os sinais de autismo mesmo antes, quando seus filhos têm entre 9 e 12 meses, dependendo dos sintomas e de sua gravidade. Há, inclusive, recomendação do Ministério da Saúde para a realização de perguntas de rastreamento, disponíveis na Caderneta de Saúde da Criança, em todas as crianças entre os 16 e os 30 meses, para que casos suspeitos possam ser identificados de forma mais precoce.
“Embora o diagnóstico geralmente seja feito depois dos dois anos de idade, existem alguns comportamentos que pais e cuidadores podem observar, os chamados sinais de alerta, que são: falta de contato visual, ausência de sorriso social (sorrir em resposta a interações), atraso na fala, dificuldade para interagir com outras pessoas e sensibilidade sensorial”, explica o médico.
No entanto, ainda de acordo com o Dr. Thiago Rocha, esses comportamentos não são necessariamente indicadores de TEA. “Muitos bebês com desenvolvimento típico podem exibir esses comportamentos de vez em quando. No entanto, se os pais perceberem vários desses comportamentos em seu bebê, ou tiverem preocupações sobre o desenvolvimento de seu filho, é fundamental a busca de uma avaliação com um profissional de saúde para investigação e orientação adequadas”, completa.
3. O diagnóstico tardio pode prejudicar o paciente?
Verdade. De maneira geral, o diagnóstico de TEA no Brasil é feito tardiamente. Esse atraso pode gerar repercussões negativas para o desenvolvimento da criança, por essa não receber estimulação adequada em períodos sensíveis do neurodesenvolvimento.
“O diagnóstico tardio do autismo pode ter consequências significativas e prejudiciais para a pessoa afetada, como: perda do tempo crucial, dificuldades sociais, dificuldades significativas na escola, descontrole comportamental ou episódios de agressão, ansiedade e depressão. É importante que os profissionais de saúde e a família estejam atentos aos sinais precoces do autismo e busquem avaliação e diagnóstico o mais cedo possível”, diz o Dr. Thiago Rocha.
A falta de informações adequadas e as dificuldades de acesso ao sistema de saúde são causas comuns para o diagnóstico tardio. A resistência ao diagnóstico e o estigma em torno de condições neurodivergentes também impedem que algumas crianças sejam levadas para avaliação e diagnosticadas.
4. O autismo é hereditário?
Verdade. Diversas pesquisas já foram realizadas para buscar descobrir as possíveis causas por trás do desenvolvimento do TEA. Os estudos apontam uma forte influência genética nos casos, mostrando que diferentes genes parecem contribuir para a ocorrência do diagnóstico. Fatores ambientais também podem influenciar, em menor grau, o risco do desenvolvimento do TEA. A explicação mais aceita no momento é uma contribuição de múltiplos fatores, numa combinação de fatores genéticos e ambientais.
5. Ingestão de certos medicamentos durante a gravidez pode aumentar o risco de autismo?
Verdade. Alguns fatores durante a gestação podem aumentar o risco de TEA. Diversos estudos apontam que o uso de ácido valproico, que é utilizado para tratamento de epilepsia e transtorno bipolar, pode aumentar a chance de a criança nascer com autismo.
“Além disso, o uso de antidepressivos durante a gravidez tem sido estudado em relação ao risco de autismo em bebês, mas os resultados são mistos e ainda não há evidências conclusivas. Alguns estudos sugerem um aumento do risco de autismo com o uso de antidepressivos, enquanto outros não encontraram nenhuma associação”, diz o Dr. Thiago Rocha.
O médico ainda ressalta que, antes de ingerir qualquer medicamento, é essencial que o paciente consulte um profissional. “É importante lembrar que os benefícios do uso de medicamentos durante a gravidez podem superar os possíveis riscos para algumas condições de saúde materna. Mas é essencial que as mulheres grávidas discutam quaisquer preocupações ou questões com seu médico ou profissional de saúde para avaliar a relação risco-benefício”, explica o médio psiquiatra.
6. Vacinas causam autismo?
Mito. Segundo a OMS, não há nenhuma comprovação científica que ligue o transtorno do espectro autista a nenhuma vacina. Essa relação surgiu a partir de um estudo realizado em 1998, que depois se mostrou fraudulento, no qual os resultados mostravam que vacinas para quadros virais como sarampo, caxumba ou rubéola aumentariam o risco do desenvolvimento de TEA nas crianças.
O estudo foi investigado e foi comprovada a manipulação dos dados, com posterior retratação por parte da revista científica e cassação do principal autor do estudo. Essa relação entre vacinas e TEA vem sendo objeto de múltiplos estudos ao longo dos últimos anos, tendo sido refutada por vários especialistas.
7. O número de casos de autismo tem aumentado?
Verdade. Não há dúvidas de que há um aumento considerável nos casos de autismo nos últimos anos. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) atinge de 1% a 2% da população mundial e, no Brasil, aproximadamente dois milhões de indivíduos. Esse crescimento da prevalência do TEA pode estar associado a três fatores principais:
- Ampliação do acesso a informações sobre o TEA, com redução de estigma e maior procura por diagnóstico;
- Crescimento do número de diagnósticos dos casos mais leves, que até recentemente não eram identificados;
- Aumento real do número de casos possivelmente associados à idade materna e paterna mais avançadas e ao aumento de casos de nascimentos prematuros.
8. Pessoas autistas não podem trabalhar?
Mito. Hoje, um autista ter uma carreira já é uma realidade e muitas empresas se conscientizaram para incentivar e absorver o melhor que esses profissionais podem oferecer. A inclusão de um autista no mercado de trabalho é garantida pela mesma lei que determina a participação mínima para portadores de qualquer deficiência.
Foi a Lei 12.764, de 2012, também conhecida como Lei Berenice Piana, que abriu as portas para o reconhecimento do Autismo dentro do rol das demais deficiências. Desde então, o autismo tem sido muito mais discutido e diagnosticado no país. Como prova, confira pessoas famosas dentro do Espectro que você não conhecia:
- Bill Gates
Diagnosticado dentro do Espectro Autista aos oito anos de idade, Bill Gates é atualmente um dos homens mais ricos do mundo por ter fundado a Microsoft. Sua fortuna é estimada nos 97 bilhões de dólares.
- Greta Thunberg
A ativista ambiental sueca Greta Thunberg, 20 anos, foi diagnosticada com Síndrome de Asperger, agora classificada como Transtorno do Espectro Autista nível 1, aos 11 anos de idade.
- Anthony Hopkins
Vencedor do Oscar de Melhor Ator no filme “O Silêncio dos Inocentes”, Anthony Hopkins teve o diagnóstico de autismo na vida adulta, por volta dos 70 anos. Foi a esposa do ator quem o incentivou a pesquisar mais sobre o TEA e entender que algumas das suas características poderiam ser sinais de uma pessoa atípica.
Por Paula Lazarini
Fonte: Saúde
Saúde
Especialistas se reúnem em workshop para discutir estratégias e inovações para impulsionar a economia de baixo carbono e a redução de emissões de gases de efeito estufa no Brasil
A redução da emissão de gases poluentes é uma demanda mundial urgente para desacelerar o processo de aquecimento global. O impacto das mudanças climáticas, com a recorrência de eventos extremos como verões mais quentes, períodos de secas e chuvas mais concentradas e intensas, impulsiona a transição para uma economia de baixo carbono.
Para estimular a troca de experiências e conhecimentos sobre o assunto, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) promove, no dia 22 de outubro de 2024, o workshop “O papel das engenharias na transição para uma economia de baixo carbono”. O evento, gratuito e aberto ao público, reúne especialistas para debater soluções integradas para a redução de emissões de carbono e da sustentabilidade em diversos setores como indústria, transporte, construção civil, energia e agronegócio.
O papel da engenharia
Organizado pelo Grupo de Trabalho (GT) “Economia de Baixo Carbono”, o workshop apresentou novas perspectivas para o mercado de carbono brasileiro e abordou a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) por meio do Projeto de Lei 182 de 2024, em análise no Senado.
“Precisamos ampliar a discussão sobre esse mercado e o papel das engenharias na desaceleração das mudanças climáticas”, pontuou a coordenadora do GT, engenheira mecânica Sírcia de Sousa.
Segundo ela, que também é conselheira da Câmara Especializada de Engenharia Mecânica, a engenharia é essencial para o planejamento e implementação de estratégias de descarbonização para setores industriais, monitoramento e verificação de gases de efeito estufa, além da criação de soluções baseadas na natureza para remoção de carbono. “Os engenheiros também desempenham um papel essencial na produção de normas que orientam e incentivam a população a ter atitudes menos agressivas ao meio ambiente, além de tornar atrativa a adesão da sociedade a um cotidiano de menor emissão de gases poluentes”, ressalta Sírcia.
O engenheiro florestal e técnico administrativo da Ufla, Thiago Magalhães Meirele, destacou a importância de ambientes como o workshop organizado pelo Crea-MG para que profissionais de diversas áreas possam interagir, debater e criar soluções mais ágeis para que o processo de migração do mercado para a economia de baixo carbono seja mais eficiente. “Esse processo é multidisciplinar, cada profissional dentro da sua área, da sua especificidade e atribuição técnica tem seu papel. Juntos, eles vão ajudar na criação de novas tecnologias, no desenvolvimento de protocolos, na aplicação de certificações, dentre outras questões”, disse. Thiago ainda destacou que é preciso que toda a população tenha consciência do tema. “Esses são problemas coletivos e só podem ser resolvidos na coletividade, se não houver um entendimento de que todas as áreas precisam trabalhar juntas para atingir essas metas, a gente não vai conseguir alcançá-las”, afirmou. O engenheiro concluiu explicando a importância do poder público nesse contexto. “Esse processo perpassa também por mudanças de políticas públicas, por incentivos fiscais, por educação”.
Também reconhecendo a iniciativa do Crea-MG em promover um evento para debater um tema “muito importante e de interesse mundial”, o engenheiro florestal Enio Fonseca, com 42 anos de atuação nas áreas de sustentabilidade, meio ambiente e mineração, ele veio participar do workshop. Fonseca parabenizou o Conselho e relembrou que “a engenharia tem um papel muito importante na dinâmica da concepção e operacionalização dessas questões da transição energética e que envolvem o crédito de carbono’’
Exemplo mineiro
Durante o workshop o município do sul de Minas, Extrema, ganhou espaço por ser o pioneiro e ser exemplo em relação a implementação de políticas ambientais. “O primeiro o município que tem esse tipo de modelo de mercado regulado de carbono é mineiro. Extrema é um caso de sucesso que começou em 2005 com uma política de pagamento dos serviços ambientais e na evolução da política, entre 2015 e 2017, eles começaram a incorporar a questão do carbono como uma das condicionantes ambientais”, comentou a engenheira florestal Valéria de Fátima Silva, integrante da Carbon Flore, empresa dedicada a soluções para economia de baixo carbono.
Valéria explicou que em nível estadual e nacional, a regulação caminha lentamente e que ainda existem diversos entraves para que o mercado adote políticas ambientais.
“Para avançar, é preciso haver consenso e envolvimento, e Extrema se diferenciou por fazer esse envolvimento voluntariamente, então só quando as empresas passaram a apoiar o projeto voluntariamente, eles instituíram isso como lei. Então o caminho foi primeiro de convencimento, de engajamento voluntário, para depois a obrigação legal”, explicou a engenheira florestal.
Outro desafio apontado pelo engenheiro de produção civil e professor do Cefet-MG Augusto César da Silva Bezerra é a ampliação do uso de biomassa para a produção de energia. Para ele, o mercado de uma maneira geral está atento ao uso consciente da energia. “A indústria global tem uma projeção de emissões mais voltada para o setor energético, para a energia, o uso da energia na indústria. E a indústria brasileira, nesse aspecto, está bem. A energia brasileira é uma energia mais limpa do que a média global. Nosso principal desafio, eu acredito que seja a gente conseguir potencializar o uso de biomassa, seja para a produção de energia térmica, de biocombustíveis ou de bioenergia, de uma forma ampla”, afirmou.
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