Apoio aos pais no cuidado com seus filhos durante todo o dia ou no contraturno escolar e garantia da segurança alimentar. Esses são alguns dos benefícios oferecidos pela creche da Ocupação Maria do Arraial, no Centro de Belo Horizonte, verificados por parlamentares nesta segunda-feira (2/10/23), durante visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ao local.

As deputadas Beatriz Cerqueira (PT), presidenta da comissão e solicitante da atividade, Macaé Evaristo (PT), vice-presidenta, e Bella Gonçalves (Psol) conheceram o espaço que atende cerca de 37 crianças e bebês de segunda a sexta-feira e em alguns sábados.

A ocupação na Rua da Bahia, 1.065, é liderada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Há cerca de dois meses, o movimento ocupou o referido prédio, onde funcionou uma unidade do Serviço Nacional do Comércio (Senac), mas que estava vazio há um tempo.

Conforme explicou um dos coordenadores da ocupação Cristiano Araújo, tão logo chegaram ao lugar, a primeira preocupação foi em garantir um espaço para acolher as crianças. Vivem no prédio 65 famílias.

A creche fica localizada no segundo andar do prédio e funciona com a colaboração de moradores da ocupação que são designados para essa tarefa, bem como com a participação de voluntários. Além de espaço para que sejam desenvolvidas brincadeiras e oficinas como de dança e de espanhol, há um lugar para refeições e um quarto para a soneca dos menores.

As crianças com mais de quatro anos, de modo geral, estão matriculadas em escolas no próprio centro e vão para a creche no contraturno escolar. As menores podem ficar o dia todo. Lá são oferecidas cinco refeições diariamente.

Cristiano Araújo relatou que a creche que ainda está se estruturando tem como referência creches de outras ocupações como a Carolina Maria de Jesus, que existe há cerca de seis anos também no Centro da Capital, e a Eliana Silva, criada há 12 anos no Barreiro, também em BH.

Creche é apoio essencial, segundo mães

Jamile Jussara, moradora da ocupação, conta com a creche para o cuidado com seus filhos de 3 e de 11 anos. O mais velho no contraturno escolar. Ela relatou que a filha mais nova já acorda querendo ir para o espaço, onde convive com outras crianças.

Ela pediu o apoio das deputadas para tentar viabilizar transporte para as crianças maiores para irem para a escola regular. Jamile contou que muitas famílias não conseguem levar seus filhos para a escola por trabalharem fora e o transporte privado onera muito.

Nilmara de Freitas Ramos também deixa seu filho de 1 ano e 8 meses na creche. Ela é moradora da Ocupação Carolina Maria de Jesus e uma das coordenadoras da Ocupação Maria do Arraial. Nilmara destacou o papel do espaço para garantir a segurança alimentar das crianças.

“Aqui somos como uma grande família. Todo mundo se ajuda”, falou.

Moradora da ocupação, Adriana Rosa da Silva é uma das que colabora nos cuidados com as crianças. Com 53 anos, ela conta que perdeu o emprego no qual cuidava de um idoso e começou a passar por muitas dificuldades financeiras. Por isso, foi morar na ocupação. Com fala tranquila, ela relata que, na creche, cuida das crianças menores, as alimenta e dá banho.

Deputadas salientam papel da ocupação

A deputada Beatriz Cerqueira ressaltou que, embora esses movimentos sociais sejam constantemente criminalizados, eles têm como característica o cuidado com as crianças e com a infância.

Bella Gonçalves falou da importância da creche e da ocupação. “Isso nos mostra como a sociedade se organiza para dar uma resposta à desigualdade estrutural que afeta, sobretudo, as crianças. Sem esse espaço estariam em uma situação de vulnerabilidade”, disse.

A deputada Macaé Evaristo corroborou as falas anteriores. Ela ainda acrescentou que a ocupação evidencia que ainda há muito por fazer para garantir acesso à educação e à moradia. A parlamentar enfatizou a importância de que as crianças tenham as matrículas garantidas nas escolas e também condições de permanecerem nessas instituições por meio de oferta de transporte.

Essa demanda levantada na visita, inclusive, deve ser objeto de requerimento das deputadas, conforme salientaram na atividade.

Fonte: Assembleia Legislativa de MG