Saúde
Vacina contra a Covid-19 atingiu apenas 29% dos africanos
Desde que a pandemia de covid-19 foi declarada, em 2020, 13 bilhões de doses de vacinas contra a doença foram aplicadas e mais de 60% da população mundial está imunizada com duas doses ou dose única, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Só em doses de reforço, o número passa de 2 bilhões de injeções, e países como o Brasil já administram a quinta dose em populações vulneráveis.
No continente africano, porém, o número de doses aplicadas contra a covid-19 é de apenas 800 milhões, em uma população de quase 1,4 bilhão de pessoas, o que faz com que somente uma em cada quatro tenha o esquema básico de proteção, sem doses de reforço, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) da África, articulados pela União Africana.
Mais de 70% da população do continente não recebeu nenhuma dose, segundo a organização, o inverso da meta da OMS para 2022, que era vacinar 70% da população de cada país com o esquema primário. Os parcialmente vacinados (esquema básico incompleto) somam 29%, os que completaram a primeira etapa de vacinação chegam a 25,6%, e os que receberam alguma dose de reforço são apenas 3,1%.
A vacina mais usada no continente africano é a Janssen (33%), cujo esquema é de dose única. Completam o top 5: Pfizer (22%), AstraZeneca (17%), Sinopharm (15%) e Sinovac (7,2%). Segundo a OMS, mais de 60% das doses fornecidas aos países da África veio do Covax Facility, consórcio internacional em prol da vacinação em países de renda média e baixa.
Mais de 50 países
Com diferentes realidades para seus 1,391 bilhão de habitantes em 55 nações e territórios, a África tem países como Marrocos, que vacinou 63% da população, e a Eritreia, que ainda não chegou a 1%.
A rede continental informa que, de modo geral, os esforços para democratizar a vacinação não foram suficientes para garantir que a maior parte do continente atingisse a meta da OMS, já que somente Seychelles, Ilhas Maurício e Libéria estão com coberturas vacinais superiores a 70%. Mesmo as potências econômicas do continente, África do Sul, Nigéria e Egito, não chegaram a 40% da população com duas doses ou dose única.
Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e responsável pela cooperação com o continente africano no Centro de Relações Internacionais em Saúde da fundação, o biólogo Augusto da Silva lembra que a desigualdade marcou o acesso à imunização em todo o mundo e explica que dificuldades logísticas e econômicas fizeram com que muitas doses que chegaram aos países do continente não fossem aplicadas.
“As vacinas chegaram muito tarde ao continente africano, e depois, houve muitos problemas logísticos dentro dos países. A imunização exige muita logística, e muitos desses países não tinham dinheiro para custear essa logística”, afirma Silva, que nasceu em Guiné Bissau e mora no Brasil há 10 anos.
Menos de uma dose por pessoa
Dados do CDC Africa apontam que os países do continente receberam pouco mais de 1 bilhão de vacinas, o que ainda é insuficiente para a população de mais de 1,3 bilhão de pessoas. Mesmo assim, o pesquisador afirma que o problema central não é a falta de vacinas, mas a falta de condições para realizar campanhas de vacinação de larga escala.
“Mesmo se tivessem 3 bilhões de vacinas, ia acontecer o mesmo fenômeno, porque o problema é vacinar as pessoas”, explicou.
O biólogo destaca que parte do problema está no alto endividamento de grande parte dos países do continente, que levou à assinatura de programas de ajuste estrutural com o Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional. Esses contratos fazem com que aumentos de gastos e deslocamentos de recursos no orçamento precisem ser negociados com os credores. “Essas negociações atrasaram muito”, diz Silva. “Quando você está sob esse ajuste, não pode nem contratar pessoal”.
Em outubro do ano passado, a Organização Mundial da Saúde alertou que, além de ser baixa, a cobertura vacinal contra a covid-19 estava avançando de forma mais lenta no continente. Entre julho e setembro, o número de doses aplicadas por mês caiu em 50%. Na época, o diretor regional da OMS na África, Matshidiso Moeti, relacionou que a queda no número de infecções contribuiu para que menos pessoas buscassem as vacinas.
“Depois de um início difícil, a parceria Covax garantiu um fluxo constante de vacinas covid-19 para a África”, disse Moeti. “Agora, somos vítimas do nosso próprio sucesso. Como as vacinas ajudaram a reduzir o número de infecções, as pessoas não temem mais a covid-19 e poucas estão dispostas a se vacinar”.
Menor mortalidade
Apesar do menor acesso às vacinas, o continente africano foi o que registrou menos casos e óbitos por covid-19. Desde o início da pandemia, foram 175 mil mortes, entre as mais de 6,6 milhões de vítimas registradas em todo o mundo. As Américas e a Europa, por exemplo, somaram mais de 2 milhões de óbitos cada. Essa discrepância chamou a atenção de pesquisadores, lembra Augusto da Silva, que explica as principais causas levantadas.
“Primeiro, a população é mais jovem [a covid-19 tem mais risco de agravamento em idosos]. Além disso, muitos países não têm muito contato, não têm grandes ligações com outros países, devido a deficiências no sistema de transporte aéreo e portuário”, explicou.
O pesquisador reconhece que pode haver algum nível de subnotificação, mas não o suficiente para igualar a proporção de mortos de outras regiões do planeta. “Se fosse só subnotificação, veríamos pessoas a morrer nas ruas”.
Outras ameaças
Se o cenário epidemiológico já era melhor do que a média global, os números ficaram ainda mais baixos no segundo semestre de 2022. A incidência de novas infecções por covid-19 caiu até cerca de 5 mil por semana em todo o continente africano no início de outubro. Em novembro houve um aumento, atingindo 12 mil por semana, mas novamente o número de infecções caiu abaixo de 10 mil em dezembro, mês em que toda a África teve menos de 200 mortes, enquanto a Europa superou 15 mil.
Se, por um lado, a redução da percepção de risco caía, por outro, a população e os governos no continente lidavam simultaneamente com outras emergências de saúde pública. Surtos de poliomielite voltaram a ser registrados no Malawi e em Moçambique em 2022, Uganda declarou emergência por casos de ebola, e Gana registrou uma inédita epidemia do vírus de Marburg.
“A resposta a múltiplas emergências de saúde pública também está afetando o desenrolar da vacinação contra a covid-19. Surtos de poliomielite, sarampo, febre amarela e agora o ebola mudaram as prioridades nos países afetados”, avalia a OMS.
Fonte: IG SAÚDE
Saúde
Especialistas se reúnem em workshop para discutir estratégias e inovações para impulsionar a economia de baixo carbono e a redução de emissões de gases de efeito estufa no Brasil
A redução da emissão de gases poluentes é uma demanda mundial urgente para desacelerar o processo de aquecimento global. O impacto das mudanças climáticas, com a recorrência de eventos extremos como verões mais quentes, períodos de secas e chuvas mais concentradas e intensas, impulsiona a transição para uma economia de baixo carbono.
Para estimular a troca de experiências e conhecimentos sobre o assunto, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) promove, no dia 22 de outubro de 2024, o workshop “O papel das engenharias na transição para uma economia de baixo carbono”. O evento, gratuito e aberto ao público, reúne especialistas para debater soluções integradas para a redução de emissões de carbono e da sustentabilidade em diversos setores como indústria, transporte, construção civil, energia e agronegócio.
O papel da engenharia
Organizado pelo Grupo de Trabalho (GT) “Economia de Baixo Carbono”, o workshop apresentou novas perspectivas para o mercado de carbono brasileiro e abordou a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) por meio do Projeto de Lei 182 de 2024, em análise no Senado.
“Precisamos ampliar a discussão sobre esse mercado e o papel das engenharias na desaceleração das mudanças climáticas”, pontuou a coordenadora do GT, engenheira mecânica Sírcia de Sousa.
Segundo ela, que também é conselheira da Câmara Especializada de Engenharia Mecânica, a engenharia é essencial para o planejamento e implementação de estratégias de descarbonização para setores industriais, monitoramento e verificação de gases de efeito estufa, além da criação de soluções baseadas na natureza para remoção de carbono. “Os engenheiros também desempenham um papel essencial na produção de normas que orientam e incentivam a população a ter atitudes menos agressivas ao meio ambiente, além de tornar atrativa a adesão da sociedade a um cotidiano de menor emissão de gases poluentes”, ressalta Sírcia.
O engenheiro florestal e técnico administrativo da Ufla, Thiago Magalhães Meirele, destacou a importância de ambientes como o workshop organizado pelo Crea-MG para que profissionais de diversas áreas possam interagir, debater e criar soluções mais ágeis para que o processo de migração do mercado para a economia de baixo carbono seja mais eficiente. “Esse processo é multidisciplinar, cada profissional dentro da sua área, da sua especificidade e atribuição técnica tem seu papel. Juntos, eles vão ajudar na criação de novas tecnologias, no desenvolvimento de protocolos, na aplicação de certificações, dentre outras questões”, disse. Thiago ainda destacou que é preciso que toda a população tenha consciência do tema. “Esses são problemas coletivos e só podem ser resolvidos na coletividade, se não houver um entendimento de que todas as áreas precisam trabalhar juntas para atingir essas metas, a gente não vai conseguir alcançá-las”, afirmou. O engenheiro concluiu explicando a importância do poder público nesse contexto. “Esse processo perpassa também por mudanças de políticas públicas, por incentivos fiscais, por educação”.
Também reconhecendo a iniciativa do Crea-MG em promover um evento para debater um tema “muito importante e de interesse mundial”, o engenheiro florestal Enio Fonseca, com 42 anos de atuação nas áreas de sustentabilidade, meio ambiente e mineração, ele veio participar do workshop. Fonseca parabenizou o Conselho e relembrou que “a engenharia tem um papel muito importante na dinâmica da concepção e operacionalização dessas questões da transição energética e que envolvem o crédito de carbono’’
Exemplo mineiro
Durante o workshop o município do sul de Minas, Extrema, ganhou espaço por ser o pioneiro e ser exemplo em relação a implementação de políticas ambientais. “O primeiro o município que tem esse tipo de modelo de mercado regulado de carbono é mineiro. Extrema é um caso de sucesso que começou em 2005 com uma política de pagamento dos serviços ambientais e na evolução da política, entre 2015 e 2017, eles começaram a incorporar a questão do carbono como uma das condicionantes ambientais”, comentou a engenheira florestal Valéria de Fátima Silva, integrante da Carbon Flore, empresa dedicada a soluções para economia de baixo carbono.
Valéria explicou que em nível estadual e nacional, a regulação caminha lentamente e que ainda existem diversos entraves para que o mercado adote políticas ambientais.
“Para avançar, é preciso haver consenso e envolvimento, e Extrema se diferenciou por fazer esse envolvimento voluntariamente, então só quando as empresas passaram a apoiar o projeto voluntariamente, eles instituíram isso como lei. Então o caminho foi primeiro de convencimento, de engajamento voluntário, para depois a obrigação legal”, explicou a engenheira florestal.
Outro desafio apontado pelo engenheiro de produção civil e professor do Cefet-MG Augusto César da Silva Bezerra é a ampliação do uso de biomassa para a produção de energia. Para ele, o mercado de uma maneira geral está atento ao uso consciente da energia. “A indústria global tem uma projeção de emissões mais voltada para o setor energético, para a energia, o uso da energia na indústria. E a indústria brasileira, nesse aspecto, está bem. A energia brasileira é uma energia mais limpa do que a média global. Nosso principal desafio, eu acredito que seja a gente conseguir potencializar o uso de biomassa, seja para a produção de energia térmica, de biocombustíveis ou de bioenergia, de uma forma ampla”, afirmou.