Cinema
Anne with an E e Anne de Green Gables: histórias iguais, mas diferentes.
Quem assiste à série da Neftlix Anne with an E pela primeira vez, sem ter pesquisado qualquer informação sobre essa história, mal pode dizer que foi baseada em um livro publicado em 1908. Com uma trama bastante atual, a série não poupa tempo ao tratar de assuntos como feminismo, racismo e inclusão LGBT, provocando certo estranhamento ao se descobrir o ano de
publicação dessa história. Afinal, Lucy Maud Montgomery, autora da série literária iniciada com Anne de Green Gables, apesar de ter sido uma mulher um tanto quanto feminista, também era fiel aos princípios de sua religião.
A verdade é que a série da Netflix consegue acrescentar tão perfeitamente esses novos temas à trama que é difícil de acreditar que não estavam na história original. No decorrer da série, são adicionados personagens LGBTs que, ou não eram claramente membros dessa comunidade nos livros, ou sequer existiam. Por mais que pareça uma adição um tanto quanto radical, tratando-se de uma história passada em uma época onde a homofobia era bastante presente, os personagens LGBTs são tão carismáticos e passam por desafios de aceitação pessoal tão bem escritos que chega a ser difícil de imaginar o seriado sem eles. Além disso, é criada toda uma trama sobre o racismo e a condição de vida da população negra, sendo quase tão bem elaborada quanto a LGBT. Nela, personagens secundários tomam o papel principal em alguns episódios e ganham o carinho e aceitação de quem acompanha a série. Somadas, essas narrativas complementam o enredo, colaborando ainda mais com uma atualização realista do roteiro.
Mais um aspecto que chama atenção aos interessados em Anne é o feminismo. Como é de se esperar, a adaptação da Netflix evidencia bastante essa característica e, definitivamente, isso é um acerto. A personagem principal, desde os primeiros episódios, deixa bem claro sua visão sobre a desigualdade entre homens e mulheres, além de, várias vezes, batalhar ativamente pelos direitos femininos. Mas isso não é algo novo. Na história de Lucy M. Montgomery o feminismo já é uma característica marcante, em especial ao tratar sobre a educação das mulheres. Inclusive, a versão literária foi e é até hoje aclamada por incluir o feminismo em suas linhas.
Outro ponto muito importante em Anne with an E é o ritmo da história. Apesar de tomar um rumo bastante lento em alguns episódios, como é o caso dos dois primeiros, a maior parte deles consegue contá-la em um tempo ideal, prendendo o espectador com detalhes importantes, mas sem se estender muito no mesmo tema. Um claro exemplo disso é o foco no passado de Anne que, mesmo sendo um tanto quanto diferente na série em relação aos livros, consegue atrair ainda mais a simpatia do espectador com a personagem. Talvez essas adições sejam as diferenças mais marcantes e benéficas da série, já que, nas páginas, muitos detalhes que renderiam uma boa narrativa acabam por tomar apenas um pequeno espaço, que é, por muitas vezes, mal desenvolvido.
Por outro lado, não devem ser ignorados os pontos positivos dos livros se comparados com o seriado. Com toda a certeza a série peca ao deixar de lado alguns personagens bastante interessantes. Na versão literária, por exemplo, são mostrados dois gêmeos, que conseguem arrancar algumas risadas do leitor e rendem alguns relatos interessantes que poderiam evidenciar ainda mais a imaginação fértil de Anne, sendo esta um dos pontos altos da personagem. São partes interessantes dos livros que infelizmente foram deixadas de lado para dar espaço a outras histórias criadas exclusivamente na adaptação, a exemplo de uma envolvendo povos nativos da região. Provavelmente essa inclusão deva-se ao fato de ser mais um tema social, que, como percebido, é um dos pontos fortes dessa nova versão. Porém, essa trama sequer teve um fim – mas, talvez isso se deva ao fato do cancelamento da série por parte da Netflix. Apesar de ser interessante, torna-se um tópico repetitivo que faz perder a característica de inovação positiva da série. Não é possível ter certeza, mas é provável que, caso a trama dos gêmeos tivesse sido acrescentada em detrimento dessa, o humor pudesse ter ganhado mais espaço na história, deixando um pouco de lado o forte drama da série, as vezes intenso em excesso.
Por fim, é perceptível que a Netflix acertou ao tentar revitalizar as histórias de Lucy M. Montgomery. Mas nem por isso os livros deixam de ter seu mérito. A autora com certeza acertou em investir nessa história e em atrever-se ao colocar temas importantes em sua trama. Desse modo, a adaptação acertou ainda mais ao explorá-los incorporando-a com temáticas muito abordadas na atualidade. E isso tudo sem abandonar a bela e verdadeira essência de Anne de Green Gables. O fato é que Anne with an E consegue atualizar a clássica história em algo novo, mas mantendo o espírito da antiga história de 1908.
Por Amanda Gambogi
Cinema
Encanto através de uma visão PCD
Por Amanda Gambogi
Nessa semana chegou às telonas a nova animação da Disney: Encanto. O filme é retratado através da perspectiva de Mirabel, a única garota da família Madrigal a não apresentar nenhum dom mágico, como é visto em todos os outros membros. Assim, a trama tenta retratar como a garota se sente em relação a isso e em como ela pode se encaixar nesse ambiente que lhe é tão acolhedor, mas, ao mesmo tempo, muito excludente.
Logo no início do longa, é introduzida ao espectador a história da família, mostrando como os Madrigal ganharam seus dons, com a avó da família – carinhosamente chamada de abuela- enfrentando um enorme desafio que remete à história colombiana. Com sua vila invadida, sem ter para onde fugir, com três filhos para criar e com seu marido assassinado – cena esta que a Disney entrega muito bem, ao mesmo tempo que mantém a essência infantil do filme – abuela consegue um milagre que cria sua vila e sua casa, onde passa a morar com sua família. No entanto, desesperada para não perder jamais esse milagre, ela acaba esquecendo de que o amor é mais importante que os dons familiares.
Essa não é uma premissa nova das animações da Disney, afinal Frozen já tratava sobre a importância da aceitação familiar – em Encanto, aliás, tem-se uma cena que realmente lembra o filme de Anna e Elsa, com um digno abraço de irmãs. Porém o novo longa consegue elaborar essa história de modo a comover o espectador muito mais. Com cenas de arrancar lágrimas aos olhos, é até mesmo possível de comparar Mirabel com uma pessoa com deficiência (ou PCD) de nossa sociedade, pois são pessoas que muitas vezes tentam se encaixar, porém sem o “dom mágico” de serem como a maioria.
As cenas de exclusão da personagem principal apresentadas no filme podem até mesmo se tornar gatilhos aos olhos de um PCD. Talvez a Disney tenha pecado em deixar esse aviso de fora, podendo deixar o psicológico de algumas pessoas abalado.
Como PCD, confesso que fiquei bastante intrigada e pensativa. Me senti representada e vi minhas dores ali na tela. É claro que deixei algumas lágrimas na sala de cinema, não tive como me conter. Todavia, acabei deixando o lugar mais leve do que entrei, com uma possível esperança de mudança, já que a próxima geração está crescendo com novas ideias de inclusão na cabeça, inspirada em obras como essa.
Sem tentar dar spoiler, posso dizer que o final do longa, apesar de bastante previsível, não deixa a desejar. O final também é de fazer cair lágrimas dos olhos e de deixar o público com coração quentinho. Pais, adultos, crianças e PCDs, todos que assistirem ao filme saem com uma pitada de esperança. E, claro, com a reflexão de que, apesar de sermos diferentes, temos sempre um papel a cumprir para o bem coletivo.
Diretor/ Alex Cavalcante Gonçalves
-
ALPINÓPOLIS E REGIÃO2 dias atrás
JÚRI POPULAR ABSOLVE RÉU QUE TENTOU MATAR EX-ESPOSA COM 5 FACADAS
-
Minas Gerais3 dias atrás
Terror em obras que vão atender a Heineken: Vigilante é executado no trabalho!
-
ARTIGOS5 horas atrás
A licença-paternidade e o desafio de não elevar ainda mais o Custo Brasil
-
Brasil e Mundo5 horas atrás
Descobrindo Ouro Preto: História, Cultura, Gastronomia e Cautela